Porque é que de repente todo o «bicho-careta» acha que pode ser escritor?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Só esta semana, o Tó Romano e o Zé Manel (até os nomes são idiotas e ttttãaaaoooo dignos de aparecer na capa de um livro) estiveram nos lançamentos dos seus (até custa escrever...) romances. A saber, pois nunca é demais difundir este tipo de informação pois assim já estão todos avisados e os riscos de se enganarem quando forem à livraria são menores: "Eva Dream" e "Inquietudes", respectivamente.

Como costumava dizer um amigo meu: mas que grande pilha de esterco. 
Também ouvi dizer que houve gente disparatada que fez as contas e mesmo que ocupássemos 50 anos das nossas vidas a ler livros compulsivamente só conseguiríamos ler cerca de 24 mil. Por isso, quem vos avisa vosso amigo é: escolham bem aquilo que lêem.

Silvio Berlusconi e o poder da negação

"Não sou mafioso", disse ele. E nós fingimos que acreditamos, porque uma mentira dita muitas vezes acaba por se transformar numa verdade indesmentível.

Crise? Só se for mesmo no Dubai

sexta-feira, 27 de novembro de 2009
Primeiro quero expressar a minha preocupação: se os tipos do petróleo estão a ficar sem dinheiro nem quero pensar no que será de nós.
Para quem não liga muito a estas coisas aborrecidas que envolvem a economia e as finanças, informo que está a decorrer neste momento um «choque» financeiro no Dubai. Afinal os tipos também estão cheios de dívidas e a ficar mais pobres, o que não me parece ser uma boa notícia. Mas é como tudo. Deixo de me importar se o preço da gasolina baixar, pois isto da economia é como tudo e só interessa enquanto «me» interessar.

Mas por cá a crise já passou. Pelo menos foi essa a sensação que me deu quando ontem fui à Fnac. Era dia do aderente e é sempre de aproveitar 10% de desconto em bens de 11ª necessidade. A loja estava a abarrotar. Pais, filhos, netos e avós, todos aos encontrões, empilhavam, num exercício de verdadeira acrobacia, livros, filmes, leitores de mp3, computadores portáteis, telemóveis, consolas de jogos e tudo o mais que conseguiam levar. Ok. É um exagero, mas é aflitivo ver que se continua a comprar indiscriminadamente, como se a dita «crise» já tivesse passado, ela que nunca deixou de existir na última década. Nós não aprendemos com o exemplo dos outros. Sim, «nós». Eu também lá estive a levar e a dar encontrões e a empilhar coisas de que na realidade não preciso. Durante o próximo mês vai piorar. É Natal.

Que fofo... ou talvez não!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Barack Obama salvou da morte certa dois perus, que, ao contrário do que é tradição naquelas paragens, não foram cozinhados para o tradicional jantar de Thanksgiving.
«Courage» e «Caroline» (até os nomes são fofinhos)  podem agora cumprir um outro destino qualquer, pois o dos perus já não é de certeza.

Finalmente fez-se luz! É que só agora percebi porque é que Obama ganhou o prémio Nobel da paz...  impedir que se cozinhem dois perus não é para toda a gente. 
I wish I could play God (too)

Ah! Não... espera! É que afinal é tradição! É suposto andarem a engordar perus para depois os presidentes norte-americanos os agraciarem com o dom da vida. Os perus conquistam-os pelo coração (e não pelo estômago, obviamente...), já que levam ao pescoço uma placa que diz "Feliz jantar". É muito fofo, mesmo! Podia ser mais fofo se não fosse tão idiota. 

Porque é que eu concordo com as propinas no ensino superior?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009
1) Porque em média um aluno custa cerca de 4000€/ano a uma Faculdade, o que significa que, indirectamente, todos os portugueses pagam propinas e a maior parte nem sequer é aluno universitário.

2) Porque o ensino por excelência em Portugal é o público, quando em países com tradição universitária enraizada acontece precisamente o contrário. Se deixam de existir numeros calusus no ensino público para compensar a falta de competência e credibilidade do sector privado, é expectável que o número de alunos a cargo do Estado aumente.
Nos EUA ou em Inglaterra, isto é, na Ivy League ou em Oxford e Cambridge, porque às vezes é preciso chamar as coisas pelos nomes para que elas ganhem aos nossos olhos a dimensão que efectivamente têm, os alunos pagam muito, mas mesmo muito mais do que os nossos. Por exemplo, um mestrado chega a custar 5000€ (ou mesmo mais) por ano, enquanto cá anda em torno dos 1000€/1200€. A contrapartida? A certeza absoluta de que esse investimento tem retorno. Por alguma razão os jovens desses (e outros) países tomam a decisão (impensável para um português) de recorrer a financiamentos bancários, amortizados em tempo oportuno, que é como quem diz quando encontrarem um emprego adequado às suas qualificações e competências.

3) Porque os contribuintes de Norte a Sul (regiões autónomas incluídas) não têm culpa que se tenha generalizado o Ensino Superior. A mentalidade do "o meu filho tem que ser doutor" continua a arrasar o ensino técnico e a despejar para o desemprego milhares de recém licenciados. Não me levem a mal: todos têm o direito de querer tirar um curso superior. No entanto, seja por vocação ou por capricho, tudo na vida tem um preço.

4) Finalmente, porque já ando nisto do «ensino superior público» há alguns anos (demasiados, talvez) e continuo convicta de que as propinas deviam ser substancialmente mais caras. A maior parte da população estudantil, nomeadamente aquela com quem me fui cruzando, pouco mais faz do que estar no espaço físico da Universidade. As salas de aula estão sempre mais vazias este ano do que estavam no ano anterior. Os bares e as salas de convívio têm lotação esgotada. Para muitos interessa mais a vida o espírito «académicos» do que o processo de aprendizagem. As pautas estão repletas de notas miseráveis e medíocres, mas os recintos onde decorrem as tradicionais festas estudantis estão sempre a abarrotar. 
Já o disse muitas vezes e não tenho qualquer problema em repetir: para muitos a universidade salda-se na bebedeira mais cara da história.

Nada disto deixa de contemplar os jovens que acabam por não frequentar o Ensino Superior porque os pais não têm possibilidades. Mas nada nesta vida é de graça. Uma vez que o financiamento para o Ensino Superior é cada vez mais reduzido, se não se pagarem propinas deixa de ser possível manter a excelência de algumas das nossas instituições (públicas!), que lutam diariamente com falta de recursos financeiros.

Bem sei que foi uma proposta do PCP que esteve na base desta minha reflexão. No entanto, ideologias políticas à parte, enquanto o Ensino Superior for uma OPÇÃO, as propinas, em última análise, são uma obrigação (moral, até).
Concordo com a opção política de transformar as universidades públicas numa espécie de centro comercial do conhecimento, onde os estudantes «compram» as competências e aptidões mais adequadas ao que prevêem ser o seu futuro profissional. Só mesmo assim é que a grande parte do orçamento que o Estado concede às instituições do ensino superior pode ser utilizada na sustentação de centros de investigação com qualidade, ao invés de servir para pagar o que os alunos na realidade custam às universidades - esses mesmos alunos que aproveitariam bem melhor o ensino superior se fossem efectivamente às aulas. Isto porque cada manifestação, festa do caloiro, queima ou bênção das fitas a que vão são horas de trabalho que perderam sem que tenham sequer dado por isso.

Tudo muda...

O tempo passa por nós e de repente já não nos importamos tanto. Nem com o que os outros dizem ou com o que pensam. Ontem fui à rua de pijama.

Sempre que a polícia faz mega-operações

terça-feira, 24 de novembro de 2009
vão logo dentro dezenas de bandidos. Pela lógica, a polícia sabe por onde eles andam... não está é para se chatear todos os dias. É aborrecido.


É amor quando ele pergunta...

domingo, 22 de novembro de 2009
- Vamos ver gente a morrer?
E eu respondo:

- Simmmmmmmm!!! 

E foi assim que ficou decidido que íamos ao cinema ver o 2012. Como previsto, morre praticamente toda a gente e poucos sobram para contar a história.

Afinal os ursos não voam...

sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Este vídeo podia ganhar o prémio do maior disparate da semana. Mas aqui não se atribuem dessas coisas.




Não havia, portanto, maneira mais idiota para explicar que, e passo a citar, “Um voo médio na Europa produz por passageiro mais de 400kg de gases do efeito estufa". O que é que lá estão a fazer os pobres dos ursos? Pesam 400kg...
É um disparate pegado. Se o objectivo da campanha era sensibilizar-me para o problema em torno das alterações climáticas, falhou vergonhosamente. É que eu agora fiquei com pena dos ursos polares, que a bem dizer estão a sofrer muito mais do que eu, lá no pólo, bem a norte, onde já fez mais frio do que agora, precisamente por causa do aquecimento global.
Sem mais comentários.

Há quem diga mais disparates do que eu...

Não sei porque é que toda a gente quer tirar férias em Agosto... eu por mim só voltava ao trabalho em Janeiro, quando a azáfama do Natal já tivesse passado. Como por aqui somos poucos (e na maior parte dos dias até sou só eu), não existe aquela coisa pirosa do «amigo secreto», em que temos 3€ para desencantar a prenda mais idiota do mundo para uma pessoa de quem não gostamos. Ninguém dá prendas e ponto final. Mas, é preciso enviar cartões de Natal e comprar brindes para oferecer aos clientes (que se estão a marimbar para as nossas tralhas, mas isso também não interessa). Rectifico. É preciso que EU envie cartões de Natal e sou eu que aturo o homem dos brindes, que é um chato e tem um pancadão daqueles...

Se eu é que aturo o homem dos brindes (porque é também para isso que me pagam) é óbvio que sou simpática. Se não for, o homem ainda me lixa a encomenda toda e depois quem ouve sou eu. Mas há que manter uma certa distância e tento sempre, todos os anos, resolver tudo por email, porque até a voz dele irrita. E eis que logo de manhã leio o maior disparate pegado que alguma vez me escreveram num email - note-se que está em causa a comunicação entre duas instituições, a empresa onde trabalho e a do homem dos brindes.
Fiz a nota de encomenda e disse-lhe que o melhor era ele passar cá pelo escritório, para meu azar, porque não lhe conseguia enviar em anexo as imagens que devem constar dos calendários que vamos mandar fazer (e que não servem para nada) - são grandes demais porque têm resolução suficiente para fazer um outdoor, mas eu só quero calendários. Escrevi de uma forma simples, directa e árida. E eis que ele responde:

"Olá. Bom dia. Gosto do teu mail, lógo em cima e informação em rodapé. Recebo  centenas de mails de todo o mundo, o teu é o mais bonito. Vou passar por aí".

Fiquei sem reacção... primeiro ODEIO que me tratem por tu. Sou empregada de escritório, não sirvo às mesas. Segundo, o meu «email» é o mais bonito porque se pagou uma pipa de massa a uma empresa de publicidade que fez um layout amaricado para eu enviar emails a clientes e fornecedores, não foi para um velho maluco achar que eu andei a desenhar no paint só para o agradar. AH! E mais... mandou-me vídeos daqueles que fazem rir, como se agora de repente fossemos amiguinhos. 
O que é que se faz? Engole-se, sorri-se e reza-se para que o próximo Natal ainda esteja MUITO longe. 

Quem não sabe é como quem não vê...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Ainda não tive Gripe A, mas devo andar lá perto, porque o meu sistema imunitário tem a mania do coleccionismo e há anos em que até tenho cromos repetidos, que é como quem diz 10 constipações, 4 ou 5 amigdalites e, para quebrar a monotonia, uma ou duas faringites ou laringite (e, confirmei hoje, outras coisas acabadas em «ite»)- É, portanto, mais provável encontrarem-me numa flu party do que no Bairro Alto. 

A primeira carraspana do ano foi uma laringite. Receitaram-me antibióticos e recusei a baixa (já contei a história em que o Estado nos dá três dias para decidirmos se estamos mesmo doentes não já?  É que eu fico logo mais doente quando me lembro de que NÃO SÃO PAGOS). Meti dois dias de férias, mais o fim-de-semana de molho e a coisa passou . Minto. Estive durante as últimas três semanas com tosse. Dizem que a partir dos 15 dias seguidos pode ser perigoso (uma breve pesquisa no Google aterroriza os menos hipocondriacos) mas a tosse era o menos, eu queria era dormir. 

Andava, basicamente, a arrastar-me pelos cantos e veio mesmo a calhar uma consulta da medicina do trabalho. Fiz o meu ar de bambi 31 e o médico fez tudo o que era possível um médico fazer com um estetoscópio e muito boa vontade. Vaticionou que eu tinha «tosse irritativa» e que o melhor era fazer um «Raio X Torácico» só para ficar mais descansada. Nem o Dr. House fazia melhor: irritada (e muito!) estava eu por andar com tosse. Mental note to self (porque é importante para a validação do ponto de vista): eu disse que tinha alergia a tudo e mais alguma coisa, desde ao pêlo do meu gato até ao pó, passando pelo pólen e pelas «plantas que crescem à beira da estrada» (segundo a sabedoria do alergologista que quis trocar-me a coisa por miúdos... se também não percebem que plantas são não me perguntem). 

Sou bem mandada e com a saúde não se brinca. Fui ao hospital, fiz o Raio X e ouvi pacientemente o diagnóstico: "es un caso extremo de renite alergica" (foi mesmo em espanhol, porque ao que parece há falta de médicos por estas bandas). Perguntei: "Então tive laringite ou era alergia desde o princípio"? Ela grunhiu que a primeira tinha piorado a segunda e mais não havia a acrescentar, pois isto dos doentes querem saber mais das suas patologias cansa um médico, especialmente se ele for espanhol.
Munida de mais uma receita e a suspirar de alívio (afinal não era cancro), fui à farmácia e comecei a emborcar antihistamínicos (dos bons, que fazem dormir) para cumprir religiosamente um tratamento de 5 dias. Não prestavam e eu não dormi. Pelo menos não me aborrecia de noite: tossia.

Ao final de três já não andava irritada com a tosse, estava furiosa! Fui à médica de família que torceu logo o nariz à rinite. Foi uma espécie de «nim». "Então e agora?", perguntei resignada. Análises e mais uma receita para aviar... Xarope (ok, faz sentido...) e antihistaminicos!! Diferentes, claro está, mas só por via das dúvidas. Fiz análises a tudo e mais alguma coisa e enfiaram-me cotonetes na garganta e no nariz, não fosse ficar algum exame de fora. Agora vem a parte gira: era mesmo alergia... Deixo aqui o testemunho em jeito de desabafo, porque três semanas, três médicos e três medicamentos depois (numa espécie de jogo «os meus são melhores do que os teus») soube que o meu problema era aquele que eu sempre tive: alergia (só não é irritativa, mas teve a distinta lata de me tirar do sério). A diferença é que esta é mais pomposa e tem a mania das grandezas, porque exigiu três médicos, um raio x e um painel de análises para se mostrar em todo o seu esplendor. E acaba em «ite».

Porque é que...

1) Temos MESMO que ter tudo o que nos dizem que é grátis? Empilhamos tralha de que não precisamos e, pior ainda, que não serve para nada, mas como foi de borla parece que é sacrilégio recusar... 

2) Me benzo sempre que passo por um carro funerário? É que é involuntário, porque a minha mão faz tudo sozinha, movimenta-se sem eu conseguir ter controlo sobre ela. Não vou à missa, os sermões aborrecem-me e queria mas não acredito que quando for desta vou para muito melhor. Deprime-me sermos supersticiosos.

O homem nem sempre tem razão

Estou a ler a espécie de autobriografia do escritor sensação do momento, Haruki Murakami, que recomendo vivamente (a opinião será publicada em espaço oportuno, que não é este, de certeza!). Ninguém duvida de que Murakami escreve bem e que é hábil o suficiente para tornar o assunto mais aborrecido do mundo - a corrida (de fundo) - numa narrativa absorvente. Ainda assim, sublinho: correr está entre as 10 coisas que mais detesto.

Adiante. Até agora só não concordo com uma afirmação:

"Pensando bem, é possível que a minha tendência para engordar possa ser encarada como uma bênção, Por outras palavras, se eu não quiser ganhar peso vejo-me obrigado a trabalhar no duro e a exercitar-me todos os dias" (p. 50).

PEÇO DESCULPA? Importa-se de repetir, é que não entendi muito bem o seu ponto de vista, Sr. Murakami. Estava-mo-nos a entender tão bem até aqui e o Sr. tem a lata de me dizer uma coisa dessas? Vê-se mesmo que é homem...  Eu não quero trabalhar no duro nem me exercitar todos os dias (nem um dia, quanto mais todos!). Eu quero é que o meu metabolismo se convença de que um hambúrguer com batatas fritas tem o mesmo número de calorias que uma sopa e uma salada. Isso e saber que daqui a 20 anos visto o 36, embora as probabilidades sejam tão altas como eu ganhar o Euromilhões.

Abençoados são os que comem tudo e não engordam uma grama... e não os desgraçados que passam pela vida a morrer, quase literalmente, de fome.

Afinal os milagres existem...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009
... e ainda não foi desta que o mundo acabou. Sim, porque, para muito boa gente, mais valia o mundo acabar já do que Portugal não marcar presença no mundial (de futebol, porque existem mais desportos à face da terra, como o meu mal-amado ténis) de 2010, na África do Sul (gostava de saber se é mais fácil obter um visto para lá).
Como o mundo só acaba e 2012 e estamos em época de milagres, será que o Sporting ganha o campeonato este ano? (brincadeirinha, mas os pensamentos positivos nunca fizeram mal a ninguém).


Os bósnios bem mereceram... só nós é que temos direito de maltratar a nossa Selecção!

A importância de ler e escrever

Remontar a uma época em que não lesse ou escrevesse é tão difícil como tentar situar no tempo e no espaço a primeira memória de todas. Revendo alguns episódios em flashback da minha infância apercebo-me de que já nessa altura era uma criança estranha. Nunca tive muitos amigos e aqueles em que realmente confiava viviam na minha imaginação. Claro, vai-se crescendo e aprendendo a importância que os outros têm na nossa vida - e a dificuldade que acarreta manter do nosso lado as pessoas que verdadeiramente nos interessam e fazem falta (sim, porque sempre considerei isto da amizade um gesto de egoísmo recíproco). Ainda assim, se houve coisa que aprendi em miúda foi que quem lê nunca está sozinho e só sozinho é que se pode ler.

Durante muitos anos morei na «linha», que para quem não conhece é a faixa costeira dos subúrbios de Lisboa. Ainda a A5 era uma miragem quando passávamos, eu e os meus pais, longas horas nas filas da marginal, de manhã no sentido de Lisboa, ao final da tarde desejosos de chegar a casa. Não me calava durante um segundo. Inventava todo o tipo de histórias ou simplesmente lia todas as tabuletas e outdoors que encontrava pela frente - o que se tornava muito exasperante, especialmente quando viajávamos para Espanha e eu tentava ler em espanhol. Tanto dava ser uma indicação, o nome de uma cidade ou um anúncio a um detergente para a roupa. Interessava era ler qualquer coisa (em voz alta, o que tornava o acto de leitura presente para todos, independentemente da vontade que existia em me quererem ou não ouvir).
Às vezes, nas férias grandes (quando era mesmo férias e eram mesmo grandes) partíamos à aventura, de carro, sem rumo certo. Tanto podiam ser 2 ou 3 dias como 15. Era até os meus pais se cansarem das «voltas». Eu só me cansava quando deixava de ter o que ler. Uma vez, em Londres, fiz uma birra (daquelas «à antiga») porque não percebia porque é que nas livrarias não se vendiam livros em português (então não se vendiam livros em inglês nas livrarias portuguesas?). A minha mãe disse-me, com uma calma muito mal disfarçada: "lê outra vez os livros que trouxeste". Mas não era a mesma coisa... a repetição é uma coisa que aborrece, seja nos livros, seja na vida.

Já perdi a conta às palavras que fui deitando cá para fora ao longo dos anos. Sou distraída e esqueço-me de tudo o que não fique apontado (sou daquelas que espalha post-its por todo o lado). Na escola a opção foram as Humanidades, no Ensino Superior o Jornalismo e a História. Milhares e milhares de palavras, manuscritas e dactilografadas, muitas delas que já se perderam e outras que nem sequer chegaram a cumprir o objectivo a que se destinavam. Já menos miúda, fiz, com muito gosto, vários amigos na faculdade. No entanto, ainda hoje a lembrança mais nítida que provavelmente têm não é de mim, mas sim dos meus (fantásticos) apontamentos. Nas aulas sempre escrevi para me manter atenta e, principalmente, para não adormecer - mas, lá no fundo, acho que era porque tinha medo de que tudo se desvanecesse por não ter ficado escrito. Só me lembro do que escrevo, já disse. É uma questão de intelectualização do mundo através das palavras. Há quem o faça através da imagem ou dos sentidos. Para mim são as letras que tornam inteligível o que me rodeia.

Desde que fiz da blogosfera a minha quarta «casa» (há uma onde durmo, uma onde trabalho e outra onde derreto os meus neurónios à velocidade da luz) apercebi-me da falta que me tem feito não escrever todos os disparates que me passam pela cabeça. Nunca quis ser escritora, até porque me parece que a necessidade de ler e escrever transcende toda e qualquer ambição de ser «profissional» na coisa. É como respirar - tem dias que estamos mais ofegantes e noutros mal damos pelo ar a passar por nós.

Esta semana aprendi que...

1) Para se acelerar o processo de obtenção de visto para certos e determinados países (sei lá... assim de repente podia dizer «Angola», mas não digo, não vá algum funcionário do consulado que não tem mais do que fazer passar por aqui e ainda me vejo metida no meio de uma crise diplomática) é recomendável que se arranjem alguns documentos fictícios (ao que eu respondi: "Minha Senhora, tem que me explicar isso como deve ser porque não estou familiarizada com esse tipo de situações" e não é que levei com um "Ah... isso é o mais fácil, passo a explicar"), não vá a coisa não se dar com os que são mesmo «a sério». E ainda dizem que Portugal é um país do terceiro mundo (mas que é uma espécie de República das Bananas, isso já não posso desmentir)

2) As autoestradas estão permanentemente em obras porque elas só se fazem em trechos de 10km. Estava eu muito bem a caminho de Palmela quando desabafei: "Estas obras na A2 nunca mais acabam!" E não é que o pendura me responde: "Ah, mas não sabe que é por causa das portagens? É que está na lei que as portagens em troços de autoestradas que estão em obras só não são pagas se a obra exceder os 10km. Há de experimentar um dia contá-los"". 
É por isso que eu adoro viver num país onde impera a «esperteza saloia». O problema não são só as leis que estão mal feitas, porque se ficasse estipulado que ao inves de 10km eram 5km as obras passavam a ter 4,9km... and so on. Valeu pela lição (porque eu sou ingénua) e pelo pôr do sol, to die for como dizem os yankees, mesmo numa A2 toda esburacada.

3) O meu corpo vive na ilusão que nasci nos trópicos. Já sei que o frio é psicológico (a parte de eu estar gelada de uma ponta à outra é um pormenor de somenos importância), mas se ainda estão uns amenos 14º e eu já preciso de um edredon, duas mantas (dobradas ao meio para fazer mais volume), pijama e casaco polar nem quero saber como é que vou sobreviver o resto do inverno (no ano passado assaltou-me a mesma dúvida, mas entretanto com o calor que esteve no verão já me esqueci!).

Preferia cair no caldeirão do Panoramix

E o mistério adensa-se em torno da vacina para a Gripe A (essa doença obscura que, entre outros sintomas, provoca o pânico colectivo). 
Dizem que foi coincidência o facto de terem morrido dois «fetos de 34 semanas» (perdoem-me a rectificação: DOIS BEBÉS, porque com oito meses já se vem cá para fora com tudo no sítio) depois de as mães terem sido vacinadas. Para mim nem precisava de ter morrido nenhum - só morta é que me espetavam a agulha.
Como sou adepta de teorias da conspiração, a mim não me enganam: não foi coincidência nenhuma. Os nossos vizinhos do outro lado do Atlântico já nos tinham avisado que aquilo não prestava e até cheguei a ler que a cura milagrosa podia causar morte e paralisia (Ok! O Diário Económico não é a fonte mais credível de todas, mas isso não é importante para sustentar o meu ponto de vista).
Além disso, com tanta gente a recusar a pica, inclusive médicos, o que dá imensa credibilidade à coisa, seria de esperar que o SNS se apercebesse de que coisa feitas (fabricadas, neste caso) à pressa nunca dão bom resultado, mas pelos vistos damos cobaias ideais. Os ensaios clínicos, que estão a decorrer neste momento em centenas (espero que sejam só dezenas) de pessoas neste país (que nem sabem que fazem parte da experiência), estão, portanto, a ser ensombrados por esta coincidência macabra: morreram dois bebés. Provavelmente, se tivessem testado a coisa primeiro tinham-se apercebido de outro efeito secundário: o potencial extermínio da raça humana. Têm razão, é muito melhor não ter Gripe A porque se foi vacinado.
Percebem agora porque é que eu preferia cair no caldeirão do Panoramix?- dizem que as «mezinhas» caseiras às vezes funcionam. É que, minha gente, é uma G R I P E - não é ébola e não nos vai começar a sair sangue por todos os orifícios do corpo (sou insensível e inconsciente, mas até prova em contrário continuo convicta de que é só uma carraspana um bocadinho pior do que as outras).

PS: foi a única a pensar que Pandemrix era a vacina do Asterix?

O dia seguinte...

Sinto falta da minha velha cadeira, desmembrada, descolorada e cheia de pêlos do meu gato (que migravam da minha roupa para o tecido, que era daqueles que aderia tudo e mais alguma coisa).
A nova é maior e, consequentemente, mal me consigo mexer entre a parede e a secretária! Mas deve ter outros atributos que ainda desconheço porque na loja onde foi comprada é considerada a «Cadeira do Mês» (quem sabe se não fico contagiada com tanta eficácia? embora seja um facto incontornável eu não ser uma peça de mobiliário). Mas esta não é só A cadeira, é uma «Director Taylor», porque nos tempos que correm as cadeiras estilo CEO de uma grande empresa também já estão ao preço da chuva. Dizia a minha mãe quando eu era miúda (porque agora sou muito mais madura e responsável... not!) "um burro carregado de livros parece um doutor". Pergunto-me eu: será que uma assalariada sentada nesta fantástica cadeira (em pele!!) pode parecer
um director? Don't think so... por isso nada melhor do que acordar e voltar ao trabalho.

Há dias assim... (estúpidos)

terça-feira, 17 de novembro de 2009
Tenho sorte (dizem) porque tenho um «emprego» (e não um «trabalho», pois dizem os entendidos no assunto que há uma GRANDE diferença). Sei lá... levanto-me todos os dias cedo, vou, faço o que me mandam e pisgo-me quando chega a «minha hora». 
Mas até admito que tenho sorte. Hoje foi um dia mais parado, mas em compensação a minha cadeira partiu-se (logo de manhã, o que quer dizer que ainda me doem as costas, não por causa do «acidente», mas porque fiquei o dia todo sentada numa cadeira de ... dessa coisa). Mas teve a sua graça: dois anos e meio depois de eu lhe ter partido um dos braços (ser desastrada é das minhas melhores qualidades) ela vingou-se! Vou ter saudades!