Porque é que eu concordo com as propinas no ensino superior?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009
1) Porque em média um aluno custa cerca de 4000€/ano a uma Faculdade, o que significa que, indirectamente, todos os portugueses pagam propinas e a maior parte nem sequer é aluno universitário.

2) Porque o ensino por excelência em Portugal é o público, quando em países com tradição universitária enraizada acontece precisamente o contrário. Se deixam de existir numeros calusus no ensino público para compensar a falta de competência e credibilidade do sector privado, é expectável que o número de alunos a cargo do Estado aumente.
Nos EUA ou em Inglaterra, isto é, na Ivy League ou em Oxford e Cambridge, porque às vezes é preciso chamar as coisas pelos nomes para que elas ganhem aos nossos olhos a dimensão que efectivamente têm, os alunos pagam muito, mas mesmo muito mais do que os nossos. Por exemplo, um mestrado chega a custar 5000€ (ou mesmo mais) por ano, enquanto cá anda em torno dos 1000€/1200€. A contrapartida? A certeza absoluta de que esse investimento tem retorno. Por alguma razão os jovens desses (e outros) países tomam a decisão (impensável para um português) de recorrer a financiamentos bancários, amortizados em tempo oportuno, que é como quem diz quando encontrarem um emprego adequado às suas qualificações e competências.

3) Porque os contribuintes de Norte a Sul (regiões autónomas incluídas) não têm culpa que se tenha generalizado o Ensino Superior. A mentalidade do "o meu filho tem que ser doutor" continua a arrasar o ensino técnico e a despejar para o desemprego milhares de recém licenciados. Não me levem a mal: todos têm o direito de querer tirar um curso superior. No entanto, seja por vocação ou por capricho, tudo na vida tem um preço.

4) Finalmente, porque já ando nisto do «ensino superior público» há alguns anos (demasiados, talvez) e continuo convicta de que as propinas deviam ser substancialmente mais caras. A maior parte da população estudantil, nomeadamente aquela com quem me fui cruzando, pouco mais faz do que estar no espaço físico da Universidade. As salas de aula estão sempre mais vazias este ano do que estavam no ano anterior. Os bares e as salas de convívio têm lotação esgotada. Para muitos interessa mais a vida o espírito «académicos» do que o processo de aprendizagem. As pautas estão repletas de notas miseráveis e medíocres, mas os recintos onde decorrem as tradicionais festas estudantis estão sempre a abarrotar. 
Já o disse muitas vezes e não tenho qualquer problema em repetir: para muitos a universidade salda-se na bebedeira mais cara da história.

Nada disto deixa de contemplar os jovens que acabam por não frequentar o Ensino Superior porque os pais não têm possibilidades. Mas nada nesta vida é de graça. Uma vez que o financiamento para o Ensino Superior é cada vez mais reduzido, se não se pagarem propinas deixa de ser possível manter a excelência de algumas das nossas instituições (públicas!), que lutam diariamente com falta de recursos financeiros.

Bem sei que foi uma proposta do PCP que esteve na base desta minha reflexão. No entanto, ideologias políticas à parte, enquanto o Ensino Superior for uma OPÇÃO, as propinas, em última análise, são uma obrigação (moral, até).
Concordo com a opção política de transformar as universidades públicas numa espécie de centro comercial do conhecimento, onde os estudantes «compram» as competências e aptidões mais adequadas ao que prevêem ser o seu futuro profissional. Só mesmo assim é que a grande parte do orçamento que o Estado concede às instituições do ensino superior pode ser utilizada na sustentação de centros de investigação com qualidade, ao invés de servir para pagar o que os alunos na realidade custam às universidades - esses mesmos alunos que aproveitariam bem melhor o ensino superior se fossem efectivamente às aulas. Isto porque cada manifestação, festa do caloiro, queima ou bênção das fitas a que vão são horas de trabalho que perderam sem que tenham sequer dado por isso.

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